Papa envia mensagem para a Quaresma de 2011
A Quaresma é uma oportunidade única para redescobrir o sentido e o valor do Batismo, segundo recordou o Papa Bento XVI em sua Mensagem para a Quaresma de 2011, divulgada hoje pela Santa Sé.
No texto, com o tema “Sepultados com Ele no batismo, foi também com Ele que ressuscitastes” (Col 2,12), o Pontífice nos convida a viver a Quaresma como um “caminho de purificação no espírito, para haurir com mais abundância do Mistério da redenção a vida nova em Cristo Senhor”.
“Esta mesma vida já nos foi transmitida no dia do nosso Batismo”, observou, destacando que o fato de que, na maior parte dos casos, este sacramento seja recebido por crianças “põe em evidência que se trata de um dom de Deus: ninguém merece a vida eterna com as próprias forças”.
“A misericórdia de Deus, que lava do pecado e permite viver na própria existência os mesmos sentimentos de Jesus Cristo, é comunicada gratuitamente ao homem.”
O Pontífice explicou que um nexo particular vincula o Batismo à Quaresma, “como momento favorável para experimentar a Graça que salva”.
Neste sacramento, de fato, “realiza-se aquele grande mistério pelo qual o homem morre para o pecado, é tornado partícipe da vida nova em Cristo Ressuscitado e recebe o mesmo Espírito de Deus que ressuscitou Jesus dos mortos”.
“Este dom gratuito deve ser reavivado sempre em cada um de nós e a Quaresma oferece-nos um percurso análogo ao catecumenato, que para os cristãos da Igreja antiga, assim como também para os catecúmenos de hoje, é uma escola insubstituível de fé e de vida cristã.”
Caminho de virtude
“O nosso imergir-nos na morte e ressurreição de Cristo através do Sacramento do Batismo, estimula-nos todos os dias a libertar o nosso coração das coisas materiais, de um vínculo egoísta com a ‘terra’, que nos empobrece e nos impede de estar disponíveis e abertos a Deus e ao próximo.”
Através da práctica tradicional do jejum, da esmola e da oração, “expressões do empenho de conversão”, a Quaresma nos ensina “a viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo”.
O jejum tem, para o cristão, “um significado profundamente religioso: tornando mais pobre a nossa mesa aprendemos a superar o egoísmo para viver na lógica da doação e do amor; suportando as privações de algumas coisas – e não só do supérfluo – aprendemos a desviar o olhar do nosso ‘eu’, para descobrir Alguém ao nosso lado e reconhecer Deus nos rostos de tantos irmãos nossos”.
“Para o cristão o jejum nada tem de intimista, mas abre em maior medida para Deus e para as necessidades dos homens, e faz com que o amor a Deus seja também amor ao próximo.”
Da mesma maneira, aprende-se a resistir “perante a tentação do ter, da avidez do dinheiro, que insidia a primazia de Deus na nossa vida”.
“A cupidez da posse provoca violência, prevaricação e morte: por isso a Igreja, especialmente no tempo quaresmal, convida à prática da esmola, ou seja, à capacidade de partilha.”
“Como compreender a bondade paterna de Deus se o coração está cheio de si e dos próprios projetos, com os quais nos iludimos de poder garantir o futuro?”
A práctica da esmola, portanto, “é uma chamada à primazia de Deus e à atenção para com o próximo, para redescobrir o nosso Pai bom e receber a sua misericórdia”.
Escuta da Palavra
“Para empreender seriamente o caminho rumo à Páscoa e nos prepararmos para celebrar a Ressurreição do Senhor – a festa mais jubilosa e solene de todo o Ano litúrgico – o que pode haver de mais adequado do que deixar-nos conduzir pela Palavra de Deus?”, pede o Papa em sua mensagem.
“Por isso – recordou -, a Igreja, nos textos evangélicos dos domingos de Quaresma, guia-nos para um encontro particularmente intenso com o Senhor, fazendo-nos repercorrer as etapas do caminho da iniciação cristã: para os catecúmenos, na perspectiva de receber o Sacramento do renascimento, para quem é batizado, em vista de novos e decisivos passos no seguimento de Cristo e na doação total a Ele.”
Meditando e interiorizando a Palavra de Deus, para vivê-la cotidianamente, “aprendemos uma forma preciosa e insubstituível de oração, porque a escuta atenta de Deus, que continua a falar ao nosso coração, alimenta o caminho de fé que iniciamos no dia do Batismo”.
A oração permite também “adquirir uma nova concepção do tempo”.
De fato, “sem a perspectiva da eternidade e da transcendência ele cadencia simplesmente os nossos passos rumo a um horizonte que não tem futuro”, enquanto, na oração, “encontramos tempo para Deus, para conhecer que ‘as suas palavras não passarão’ (cf. Mc 13, 31), para entrar naquela comunhão íntima com Ele ‘que ninguém nos poderá tirar’ (cf. Jo 16, 22) e que nos abre à esperança que não desilude, à vida eterna”.
Em resumo, constata Bento XVI, o itinerário quaresmal consiste em “fazer-se conformes com a morte de Cristo, para realizar uma conversão profunda da nossa vida: deixar-se transformar pela ação do Espírito Santo, como São Paulo no caminho de Damasco; orientar com decisão a nossa existência segundo a vontade de Deus; libertar-nos do nosso egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo”.
“O período quaresmal – conclui – é momento favorável para reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo.”
Fonte: Zenit.org