Brasília, 20 jul (RV) – Em carta enviada à presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), Irmã Márian Ambrósio, o Núncio Apostólico no Brasil, Dom Lorenzo Baldisseri, saudou os religiosos e religiosas reunidos em assembleia eletiva, que começou nesta segunda-feira, 19, em Brasília (DF).
Dom Lorenzo destacou como “muito oportuno” o lema do encontro, “De olhos fixos em Jesus”. Segundo o núncio, o lema “vem refletir bem a necessidade de querer afirmar novamente o sentido da consagração religiosa como verdadeira consagração da própria vida a serviço da Igreja, pela dedicação exclusiva ao bem das almas”.
Leia, abaixo, a íntegra da mensagem.
Brasília, 15/06/2010
Reverenda Irmã,
Por ocasião da celebração da XXII Assembleia Geral Eletiva da Conferência dos Religiosos do Brasil, uno-me agradecido e honrado pelo convite que me foi feito para participar desse evento, fazendo votos, desde já, de que possa dar continuidade à eficaz e plurissecular participação dos Religiosos e das Religiosas no processo evangelizador do povo brasileiro.
O tema escolhido: “Vida Religiosa Consagrada no contexto plural: identidade, relações e paixão pelo Reino”, todo ele sintetizado no lema “De olhos fixos em Jesus”, é muito oportuno, pois vem refletir bem a necessidade de querer afirmar novamente o sentido da consagração religiosa como verdadeira consagração da própria vida a serviço da Igreja, pela dedicação exclusiva ao bem das almas. O exemplo do Filho de Deus feito Homem reflete aquele desejo ardente de fazer da própria vida uma Páscoa: uma passagem, se não uma autêntica conversão interior por amor do Reino de Céus.
Decorre daí a necessidade de um “aprofundamento do grande dom da vida consagrada na tríplice dimensão da consagração, da comunhão e da missão” (Exortação Apostólica Vita consecrata n. 13), constituídos como base essencial para encontrar de novo a própria identidade da vida religiosa no seio da Igreja. Nesta tríplice força propulsora de uma entrega generosa da vida, com suas exigências e sacrifícios, mas acima de tudo com a alegria de saberem-se corredentores com Cristo, acha-se a consciência de saberem-se escolhidos para uma missão de serviço à Igreja, de acordo com o carisma fundacional originário de cada instituição. Não se trata, portanto, de refundar, ou mesmo de reconstruir, mas de redescobrir o sentido vocacional da entrega a Deus.
A consagração religiosa é uma entrega movida, não por interesses humanos ou de utilidade pública que se motivam, talvez, por razões circunstanciais de tempo e de lugar, tais como as exigências de acolher os mais pobres e excluídos da sociedade; será também por estas razões, mas ela está para ser acolhida por um coração orante e sacrificado que quer levar o Pão e a Palavra de Deus vivenciados na alma e no coração do consagrado e da consagrada. A dimensão religiosa deve, portanto, ser um domínio exclusivo de Deus, realizada ao compasso de uma vida unida a Jesus Sacramentado, especialmente na Eucaristia e na contemplação da vida de Cristo de cada consagrado. Quando a vida de uma alma está plenamente imbuída de Deus então, e só então, a vida ativa encontra plenamente sua razão de ser. Dela virão frutos abundantes de eficácia apostólica e de conversão das almas.
Essa presença operativa dos consagrados seja num mosteiro de estrita observância, seja no meio das mais variadas tarefas de evangelização, será certamente de grande utilidade para a Igreja quando estes saberão demonstrar com a própria vida e a própria conduta, inclusive não tendo receio de apresentar-se externamente como tal, que são almas que se deram a Deus incondicionalmente. Deixai-me, por isso, recordar aquelas do Santo Padre deste ano em Fátima:
“Queridos consagrados e consagradas, como o vosso empenho na oração, na ascese, no progresso da vida espiritual, na ação apostólica e na missão, tendeis para a Jerusalém Celeste, antecipais a igreja escatológica, firme na posse e contemplação amorosa de Deus-Amor. Como é grande, hoje, a necessidade deste testemunho! Muitos dos nossos irmãos vivem como se não houvesse um Além, sem se importar com a própria salvação eterna. Os homens são chamados a aderir ao conhecimento e ao amor de Deus, e a Igreja tem a missão de os ajudar nesta vocação. Bem sabemos que Deus é senhor dos seus dons; e a conversão dos homens é graça. Mas somos responsáveis pelo anúncio da fé, da totalidade da fé e das suas exigências”. (12/05/2010)
Servir a Igreja como ela quer ser servida é o grande desafio que cada religioso e religiosa deveria propor-se à hora de discernir suas opções pastorais, não somente em sede de Conselho Provincial, mas também, ao assumir individualmente uma colaboração na vida de uma diocese. A união com o Ordinário local deve estar baseada nesta dimensão de comunhão e de participação, sem a qual a pastoral perderia toda sua eficácia.
Ao fazer votos de que todas as Superioras e Superiores maiores das Congregações Religiosas do Brasil possam assumir com ardor e esperança renovados o seu compromisso de unidade com o Santo Padre e o seu Magistério, invoco ao Senhor da messe que envie abundantes graças e dê conforto espiritual a todos os membros da Assembleia e seus colaboradores, e aproveito o ensejo para renovar os protestos de alta estima e consideração, subscrevendo-me atenciosamente,
Dom Lorenzo Baldisseri
Fonte: Rádio Vaticano