Igreja não mudou posição sobre homossexuais, afirma cardeal

15 de outubro de 2014

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O Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, participa dos trabalhos da 3ª Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos / Foto: Reprodução TVCN

Kelen Galvan
Da redação, com colaboração de Danusa Rego

A Igreja não mudou sua posição em relação às uniões de pessoas do mesmo sexo. Foi o que afirmou o Cardeal Odilo Pedro Scherer, que participa dos trabalhos da 3º Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, sobre a Família, no Vaticano, em entrevista exclusiva à nossa correspondente em Roma, Danusa Rego.

O cardeal comentou a repercussão das mídias, que, em alguns casos, trouxeram interpretações equivocadas sobre o relatório da primeira semana do Sínodo, apresentado nesta segunda-feira, 13.

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Dom Odilo enfatizou que o relatório foi apenas um “apanhado” geral de tudo o que foi apresentado rapidamente em mais de 200 intervenções, e o texto ainda passará por discussões. Ele lembrou também que o documento final do Sínodo será concluído apenas em outubro de 2015.

Outro alerta do cardeal foi a respeito de decisões de Francisco. Segundo ele, “não houve nenhuma decisão do Papa”, pelo contrário, o Santo Padre está em atitude de escuta. “Ele está participando de quase tudo, quietinho, ouvindo, porque o Sínodo é chamado justamente a falar e o Papa ouve”, explicou.

Leia a entrevista completa:

Canção Nova – Dom Odilo, na segunda-feira, o Cardeal Péter Erdõ, leu o chamado relatório pós congregações, que sabemos não ainda o documento final do Sínodo, não é mesmo?

Dom Odilo – De fato esse relatório, preparado pelo Cardeal Erdõ, de Budapeste, que é o relator geral do Sínodo, ajudado naturalmente pela equipe de secretaria, tentou trazer uma síntese de tudo o que foi apresentado durante a semana, por mais de 200 intervenções dos membros do Sínodo, que falaram por três ou quatro minutos.

Portanto, foram muitas intervenções e o relator fez um apanhado organizando essas sínteses com uma reflexão, títulos e assim por diante.

Então, esse relatório não é ainda uma decisão, não é um documento do Sínodo. É um relatório. E um relatório que, naturalmente, está sendo trabalhado ulteriormente pelo Sínodo, porque os grupos menores são parte da metodologia do Sínodo.

O Sínodo é maior que o trabalho do relator. Então, o Sínodo continua trabalhando sobre esse relatório agora para complementar, ampliar, aprofundar, cortar, se for o caso, alguma questão. E, naturalmente, isso parte da metodologia do Sínodo.

O que eu quero destacar é que, de fato, esse relatório apresentado é de síntese, não é nenhum documento aprovado.

Canção Nova – Ontem, um dos cardeais afirmou ter visto com surpresa a forma que algumas mídias noticiaram os fatos dessa semana, como se o Papa já tivesse decidido alguma coisa. Lemos em alguns jornais, por exemplo, que os bispos defendem mudanças profundas na relação do Vaticano com os homossexuais, e que bispos conservadores estariam reagindo à abertura da Igreja com relação aos gays. O senhor poderia também esclarecer essa questão?

Dom Odilo – Para começar, não houve nenhuma decisão do Papa. Ele está participando de quase tudo, quietinho, ouvindo, porque o Sínodo é chamado justamente a falar e o Papa ouve. O Papa não está intervindo constantemente. Ele ouve. E portanto, não tomou nenhuma decisão.

Então, noticiar que o Sínodo tomou essa decisão, mudou isso ou aquilo, não é verdade. Isso ainda não aconteceu, nem é parte da metodologia do Sínodo, mas o Papa incentivou que todos tivessem a coragem de falar, francamente e livremente.

Ele até disse: “quem garante a unidade da doutrina é o Papa, portanto falem livremente, porque nós estamos num Sínodo”. Sínodo significa um caminho, a busca de um caminho, um caminho comum.

As reflexões evidentemente não são todas iguais, nos mais de 200 participantes desta Assembleia Sinodal tem muitas maneiras diferentes de ver as coisas. Isso tudo é apresentado, então é claro que as posições não são iguais. Mas isso não significa que estão aí debatendo uns contra os outros, que está tendo partido aqui, bancada lá. Isso é fantasia que talvez cabe nos parlamentos políticos, mas isso não está acontecendo aqui.

Aqui está acontecendo a livre manifestação das ideias, das reflexões e, agora, justamente a reflexão que continua busca chegar a um caminho comum. Sínodo é isso: um caminho comum, que de toda maneira ainda tem muitas etapas para fazer, para se chegar a um documento final. Inclusive, o caminho a fazer é a próxima Assembleia do Sínodo do ano que vem.

Canção Nova – Nós falamos dos homossexuais, talvez seja interessante esclarecer também que não é uma grande novidade a acolhida da Igreja para com essas pessoas, não é Dom Odilo?

Dom Odilo – De fato, às vezes, se apresenta como grande novidade aquilo que já está, é parte da vida da Igreja, é parte das atitudes da Igreja, é parte de sua doutrina. Então, não houve também nada de mudança nesse sentido. É só olhar o que está nos documentos da Igreja a respeito dos homossexuais.

O que se disse erroneamente é que a Igreja mudou sua posição em relação às uniões de pessoas do mesmo sexo. Isso não aconteceu. Não houve uma mudança de posição.

O que houve no Sínodo foram várias considerações, porque isso também está na pauta, no Instrumento de Trabalho, a respeito das uniões de pessoas do mesmo sexo, como encarar isso, como encarar sua presença na Igreja, como encarar a adoção de filhos, a educação dos filhos, como encarar quando duas pessoas do mesmo sexo que adotaram uma criança querem batizá-la, tudo isso foi refletido.

Mas, nisso não houve mudança de posição na Igreja, em relação àquilo que já se fazia.

Canção Nova – Para que as pessoas compreendam melhor, qual o clima desses trabalhos sinodais entre os cardeais, bispos, e até mesmo os leigos que participam desses discussões?

Dom Odilo – O clima é muito bom, sereno e fraterno, de grande liberdade e de grande caridade também no escutar. Basta pensar que, na semana passada, ficamos a semana inteirinha, manhã e tarde, escutando. Escutando os outros que falavam e a gente ficava quietinho. Eu falei duas vezes durante a semana e o resto foi escutar.

Então, a gente faz a caridade da escuta, da paciência, do discernimento, da acolhida de quem pensa diferente, para chegar justamente a uma maior luz sobre a verdade que tem que ser acolhida e seguida.

O clima é muito fraterno portanto, entre todos os participantes do Sínodo, isso não impede que cada um expresse livremente, com toda a sua convicção também aquilo que pensa, e isso é necessário, porque se todo mundo pensa a mesma coisa nós não vamos para a frente, e nem era necessário fazer um Sínodo.

Canção Nova – Como caminham os trabalhos dos círculos menores, em especial do grupo do qual o senhor participa?

Dom Odilo – Eu estou num grupo de língua espanhola. Infelizmente não temos um grupo de língua portuguesa, esse grupo é formado sobretudo de latino-americanos, de bispos de toda a América Latina e um ou outro da Espanha, portanto, bastante diversificado.

O grupo é muito vivo, muito interessado nas questões, com muitas sugestões, muita criatividade que está sendo manifestada. Nós estamos fazendo muitas propostas, emendas, isso está previsto justamente, a elaboração de emendas para enriquecer o texto e reapresentar essas emendas depois no plenário, para que elas possam ser integradas no texto global.

Fonte: Cancãonova.com