Arcebispo Ladaria e teólogo González de Cardedal apresentam novo livro do papa
Por Jesús Colina
Ao publicar o livro Jesus de Nazaré – Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição, Bento XVI oferece razões para compreender e crer em Cristo. Para tanto, não hesita em se desprender da sua autoridade magisterial como papa e voltar a assumir a assinatura de Joseph Ratzinger, como explicam dois dos maiores teólogos contemporâneos.
O arcebispo Luis Francisco Ladaria Ferrer S.J., secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, e o padre Olegario González de Cardedal, teólogo e membro da Real Academia de Ciências Morais e Políticas da Espanha, apresentaram nesta segunda-feira, na embaixada espanhola, o segundo volume do Santo Padre dedicado a Jesus.
Entre as perguntas do auditório, a mais repetida desejava entender qual é o nível de autoridade do livro. Embora o próprio pontífice tenha resolvido a dúvida já no prólogo do primeiro volume sobre Jesus, a questão ainda suscita interrogações mesmo entre os teólogos, como mostrado pelo auditório que lotou a grande sala da primeira embaixada espanhola da história.
“Não preciso dizer expressamente que este livro não é um ato magisterial, mas apenas a expressão da minha busca pessoal ‘da face do Senhor’ (cf. Sal 27, 8). Por isso, todos são livres para me contradizer. Peço aos leitores e leitoras essa benevolência inicial, sem a qual não há compreensão possível”, afirma o autor Joseph Ratzinger-Bento XVI na introdução.
O padre Ladaria, como afetuosamente chamado pelo auditório espanhol, explicou que “é um livro pessoal. Que autoridade ele tem? A do autor. O fato de que esse autor é papa acrescenta autoridade, mas não por ser uma autoridade magisterial, e sim porque é uma personalidade reconhecida”.
“É um livro de Joseph Ratzinger-Bento XVI. Ele tem a autoridade da grande trajetória teológica de Joseph Ratzinger. Tem que ficar claro que não é magistério da Igreja”, sublinhou Ladaria.
Um papa teólogo
Respondendo à mesma pergunta, González de Cardedal, amigo de juventude de Ratzinger, considerou que o livro trouxe novidade ao papado, pois é a primeira vez que um sucessor de Pedro é um teólogo que dedicou boa parte da vida à pesquisa e ao estudo acadêmico universitário.
“É uma autoridade que, antes que nos fazer obedecer, nos faz pensar”, esclareceu. “A consciência tem que discernir os vários níveis de autoridade com que ele exerce a sua missão, e a correspondente reação a ela. Neste livro, ele nos dá o que pensar e quer nos fazer refletir com ele. Não deve ter sido à toa que Deus quis um teólogo papa”.
“O homem quer ser iluminado em sua inteligência e este é o grande favor que devemos a este papa. Não é uma ditadura pontifícia, é alguém que nos leva a pensar”.
Descobrir o Jesus real
Dom Ladaria se juntou a esta reflexão explicando que “precisamos notar que o papa, antes de nos fazer obedecer, nos faz pensar”. “Seria muito interessante ver as coincidências com a exortação Verbum Domini, esta sim magistério papal. Então podemos ver como é que o pensamento de Ratzinger entra no magistério de Bento XVI”.
“Ele nos faz ver que chegamos até o Jesus real combinando as duas hermenêuticas, a da história e a da fé, sem confundi-las, mas também sem separá-las. E eu acho que este é o grande valor desse livro”, apontou Ladaria.
Numa dissertação caracterizada por linguagem direta e nascida do coração, Ladaria afirmou que “no fundo, é um livro que pretende nos conduzir ao encontro com Jesus. Quer nos introduzir no encontro que ele teve com Jesus, não para que o repitamos, mas para nos servirmos dele”.
Um livro de coração e rigor científico
“Este livro não cai na dicotomia de pensamento e coração; é um testemunho de fé, de alguém que carrega nos ombros muitos anos de pesquisa científica e de encontro com Jesus”, reforçou.
“E Jesus nós achamos nos evangelhos. Jesus nós achamos nos evangelhos que a Igreja nos transmitiu desde os primeiros tempos”.
González de Cardedal considerou que este livro é decisivo para a vida e trajetória do autor, escrito no final de um caminho de estudo e meditação. Por isso, aconselhou sua leitura “com tempo”: “Não é uma leitura de jornal. Precisa de sossego, recolhimento”.
“Santo Inácio”, concluiu o teólogo, “dizia que temos que ouvir as palavras de Jesus como se estivéssemos lá e Ele estivesse falando conosco. E este livro tem que ser lido ao lado de Ratzinger, como se ele estivesse falando conosco”.
Fonte: Zenit.org